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11 setembro 2010

Telles Júnior

Jerônimo José Telles Júnior, Recife, 1851 - Recife, 1º de maio de 1914. Foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Com 16 anos mudou-se com a família para Rio Grande, onde iniciou seus estudos de pintura com Eduardo de Martino. Em 1870 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha, ao mesmo tempo em que estudava desenho e freqüentava o Liceu de Artes e Ofícios. Logo depois voltou a Recife, e lá se interessou também pela fotografia. A partir de 1880 passou a se dedicar ao magistério na Sociedade dos Artistas, Mecânicos e Liberais e no Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco, do qual foi diretor, e à política, trabalhando para a melhoria das condições de vida da classe operária, elegendo-se deputado estadual em 1891. Sua obra de pintura foi finalmente reconhecida a partir do final da década de 1890, quando sua participação nos salões oficiais do Rio foi contemplada com medalha de ouro. Teles Júnior teve predileções, cuja obra oferece uma repetição de motivos permanentes expressos numa particular visão, orientada para um realismo atingindo às vezes é certo e, lamentavelmente, a aridez fastidiosa e desagradável de um documento. E, o que é pior, um documento de paisagem apenas. No entanto, esta repetição de motivos permanentes, esta insistência de pintar coqueiros, caracterizando-o como pintor do campo, para quem as edificações (mesmo quando antigas e pitorescas) e os tipos populares, o homem em suma, eram quase que inexistentes, coloca-o num plano superior aos pintores do seu tempo e mesmo superior à quase totalidade dos pintores de hoje. Porque nesta insistência está a compreensão identificadora de uma paisagem característica de uma região, está a representação do cenário de uma vida social em início de formação apreendidas num relance de valores emotivos. E Teles Júnior será por isso mais tarde, como Franz Post já é para os nossos dias, uma fonte curiosa de sugestões a se manifestar nas artes decorativas e aplicadas e os seus futuros animadores terão nela uma companhia amável e encantadora. A esta quase lírica insistência no reproduzir o mais interessante elemento de nossa paisagem, aquele que empresta à massa verde da folhagem uma vibração intensa, teria ele fornecido mais beleza e mais harmonia se realizasse uma obra de interpretação livre, um conjunto de imprevistos e incidentes caprichosos. Uma surpresa. Porque a arte de Teles Júnior não surpreende. Nem a natureza, nem ao observador. A ele faltava a inquietação de um Césanne, de um Signac, ou de um Gauguin. Era calmo, sereno, contemplativo; faltava-lhe a pupila aguda de um Césanne esperando que os primeiros raios de luz do dia a nascer penetrassem no interior da Catedral de S. Giorgio, em Veneza, para sentir todo aquele interior deslumbrante reviver, surgir da sombra envolvente tomando novas formas que só ele àquela hora surpreendeu. Diante das telas do pintor pernambucano não se tem a revelação de um temperamento único, capaz de produzir um grande entusiasmo; tem-se sim uma sensação de doçura e suavidade notável, como a de aflição e tortura, nos quadros do seu discípulo Valfrido Mauricéa. Do que ficou dito acima não se conclua porém que a obra de Teles Júnior foi monótona; pelo contrário, é muito raro ter-se em pintura um conjunto de tão variadas impressões; mas impressões verdadeiras, profundas, que penetram profundamente a sua sensibilidade para o esejo de reproduzi-las numa como desconfiança da execução, numa insatisfação amorosa e ibrante. Assim ele pintou de um mesmo trecho de caminho, num intervalo de quatro anos, dois aspectos, fez da ação do vento nos coqueiros motivo para mais de um quadro, o ritmo isolado e altivo dos visgueiros altos, senhoriais, é tratado também por ele com freqüência, como ainda a entrada do porto do Recife, que pintou diversas vezes. Assim, esta freqüência não resvalou para a monotonia, ficou dentro de um regime rítmico e agradável. Mas era apenas um pintor do campo, um amoroso do verde e do corte vermelho dos barrancos, um pintor dos subúrbios a quem o Recife – cidade em que viveu a maior parte de sua vida – a quem o Recife pitoresco do seu tempo em quase nada impressionou; à sua visão escaparam essa grande exibição de fachadas que o rio proporciona, a vida das pequenas ruas cheias de flagrantes maravilhosos, o caprichoso conjunto dos telhados, das pontes e das águas, a vida do rio com os estaleiros de alvarengas e barcaças, com as barcaças que saem barra afora, e os mangues, e a pesca nas gamboas, tudo expressões de vida pernambucana que o meu amigo Manoel Bandeira com a mesma amorosa insistência de Teles Júnior vai reunindo e colecionando e ainda dentro de uma vibração de pintura nova, intuitiva, original, sua. Repito, foi um pintor do campo e de marinhas, não praticou a natureza morta, nunca teve jeito para o retrato e mesmo para as figuras. Inabilidades que definem a sua sensibilidade – observando o valor da capacidade de visão sobre a sensibilidade e exprimindo-a numa noção de distância – que o impelia à sensação dos panoramas e que era pobre demais para atingir o efeito pitoresco de mais perto como sucede na natureza morta ou no retrato. E não lhe era estranha esta impossibilidade, esta impotência da sua arte; daí abandonar completamente o retrato, gênero de trabalho que tentou várias vezes, dedicando-se exclusivamente à paisagem; porque mesmo as marinhas não eram objeto de sua muita pedileção; muitos são os quadros de Teles Júnior, é verdade, onde há trechos de mar em que as ondas aparecem agitadas ou mansas, mas era porque ele queria pintar a praia com os coqueiros, a vida intensa dos coqueiros e perto estava o mar. Então pintava-o. Mas não foi um pintor de marinhas, um artista que pouco se preocupou com as embarcações, com o conhecimento da aparelhagem náutica, não estudou nem sentiu as variações atmosféricas no mar largo, as múltiplas disposições dos grandes céus marítimos. Se pintou marinhas não teve por elas uma verdadeira atração como Castagneto1, este originalíssimo Castagneto que vivia com os olhos postos no mar, na vida do mar. E isto muito particularmente, porque como disse acima, a sua sensibilidade ou o seu poder sensorial não surpreendia e voltava-se para um campo mais fácil, que era o horizonte limitado das matas sem imprevistos de perspectiva aérea. E não só por isso. Também porque para sentir o mar não basta viver perto dele, precisa de alguma forma ser filho de pescador como Castagneto, ter lidado com ele, ter sentido todos os seus caprichos, as suas revoltas, ou trabalhado na faina de bordo, no rude serviço de colher amarras e soltar velas. Outros motivos muito ricos de pintura que fugiram à pupila estática do pintor Teles Júnior foram as perspectivas das velhas igrejas, das velhas casas coloniais, as festas populares, religiosas, carnavalescas com um colorido de muito sabor tropical, de muita alegria. Como se olharia mais tarde, hoje mesmo, com íntima satisfação para as telas que nos descrevessem todo o ritual das procissões antigas, do antigo carnaval, as ruas cheias de gente, o vermelho e os roxos festivos dos estandartes e das bandeiras. Bons assuntos para a documentação colorida e dos quais possuímos atualmente uma descrição muito vaga na cinza dos desenhos a carvão da época. Bons assuntos e ainda hoje bem raros são os pintores que se abalançam de tratá-los, raro um Di Cavalcanti com seu Cordão, raríssimo um V. do Rego Monteiro com as suas ilustrações de lendas amazônicas onde estuda as fisionomias de nossos indígenas como Gauguin estudava as dos índios Maoris. É estranho que havendo tantos pintores no Brasil não haja um, que eu saiba, tivesse a lembrança de fixar flagrantes de uma multidão mestiça numa festa de igreja ou num baile de clube carnavalesco. Absolvamos, portanto, Teles Júnior desta falta e, ainda mais, porque não a cometeu para fazer uma obra fracionária e incaracterística, como muitos trazem na sua bagagem artística, misturadamente, as pontes de Paris, os canais de Veneza, os igarapés do Amazonas e até os jardinzinhos de capital paulista.

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